sábado, 17 de novembro de 2012

SOLIDÃO ATRAVESSADA

A solidão que me atravessa não tem rosto,
nem me estende a pele,
mas satura um gosto fresco
de desejo
que, no oco das minhas cavidades,
reverbera ecos de um grito rouco e
quer cantar
A solidão que me atravessa
estende em mim seu acampamento,
faz de mim abrigo enquanto

sinto no peito,
pesar
velando meus pensamentos
numa noite fria que não parece terminar
A solidão que me atravessa
estrutura em mim a ponte,
revela a passagem do tempo mais denso
Me afoga
mas não me mata e,
depois, como uma correnteza,
passa,
deixa em meu corpo
um lodo, uma argamassa
Assim que testemunhada,
a solidão atravessada,
sorrateira segue, me deixando
na estrada
 
Mas reparando bem,
nos rastros da malvada,
é onde encontro os elementos
para reestruturar
minha morada
 
Ditto Leite

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

RITUAIS DE PASSAGEM

Quando o tempo parece estacionar na boca do estômago
e as palavras refugiam-se no céu da boca,
num estado de suspensão
coisas levitam no interno, acumulando oco
e eu peso pro chão
desmedido
quero correr,
quero abrigo
mas é em mim que habita o turbilhão
quando passa brando
e as boas novas levam o medo embora,
me esvazio
a vida volta parecer um lugar
onde consigo fluir e me comunicar
Habitar, e seguir
Quero bailar nas estações com meus rituais de passagem.
Prosseguir digerindo as boas vindas, mesmo quando ainda se encontram escondidas no véu do futuro.
A natureza generosa há de fazer chover sempre e as árvores bem-agradecidas enxovalham o solo com a beleza dos seus frutos. Comemos, disseminamos a semente que fertilizará a prosperidade inerente aos que na vida seguem
se movendo