domingo, 17 de outubro de 2010

Desabafo afônico de um diálogo com senha pra chegar
Em dias como o de hoje, os pensamentos são suicidas. Se jogam violentamente contra as paredes do coração. Pedem pra sair da cabeça... Penetram olhos adentro, mas destes lágrimas não costumam escorrer. Provocam sufocamentos exigindo demasiado esforço dos pulmões e o peito condena suspiros constantes compostos de um ar filtrado por qualquer esperança.

As palavras potencializadas pela explosão dos gritos são espremidas de volta para dentro. Pela boca e seus dentes, travados seguidos de todos os músculos rígidos e impressionantemente vulneráveis a qualquer sopro externo trazido pelo mundo e seus fatores sempre eloquentes e confusos. São os pensamentos fragmentos criados pela minha emoção, ou por minha ótica hostil. Que teimam em mal interpretar as correntes de acaso do dia a dia.

Não acredito em acaso! Tudo precisa fazer sentido em minha mente questionadora. As respostas já se confundem com suposições e me levam a crer que não tenho mais por que crer. O mistério no qual me mantive interessado em vivenciar já passa batido em meio a tantas perdas. Já que tudo se perde e sempre quero ganhar, minha próxima jogada me induz a entregar tudo, de mãos beijadas:
Meu dinheiro, ou melhor, minhas dívidas;
meu afeto e busca pelo amor ideal;
meu egocentrismo tão cansado de correr atrás de fama e sucesso;
meus esforços em me manter na busca por uma aparente beleza dessas efêmeras que todos querem comprar;
minha libido tão desperdiçada noites afora pela solidão;
meu pudor todo fantasiado de provocantes vestes, jurando ser banalizado,
mas incrustado entre as pernas das grandes raízes patriarcais;
minha arte e suas mãos calejadas, por vezes castradas pelo desinteresse alheio;
e, por fim, minha própria natureza tão impoluta e contraditória.

Não que eu tenha talento pra São Francisco, mas, vindo de um ser que nem seu próprio corpo possuiu, que lucidez é essa em batalhar sangrentamente por conquistas desastrosas? De que valor mereço me cercar? Em que tempo e mundo estão minhas expectativas, meu cofre pra eu depositar? Perdeu-se a confiança pelas senhas misteriosas das inconstâncias, inconstantes como minhas oscilações emotivas. Meus pensamentos são quebra-cabeças que levam a figuras que nunca soube formar.Enquanto isso, espero no sofá a morte vir pra conversar, pra ver se um dia faz valer, tudo que se propõe viver.

19/ 08/07

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