quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sem endereço

Entreguei meus pensamentos
antes que tudo acabasse;
arranquei todas as coisas do fundo e disse adeus.
Se encontrasse nas palavras alguma grande surpresa que me livrasse a cara,
olharia pra vc com olhos exatos de quem encontrou uma mira pra fincar os pés
ou um sentido pra seguir.
As certezas levam junto com elas sempre grandes mentiras,
me mantêm neste lugar, sem endereço, onde nada é meu, nem parece me acomodar.

Abri os livros que enfeitam a estante,
tentei voar
e iluminar o caminho de volta,
para aquela parte que já não tenho mais.
Levado pelas mãos de Caio me arrastei pelas esbórnias sujas dos que ficaram sem girar,
sangrei-me os meus pés com Rosa, hiperventilei minha alma cheia de Clarice
e, na profundidade das frases curtas de Adriana, afoguei todo o resto de mim

que é falta.

Antes que tudo acabasse,
entreguei meus pensamentos.
Disse a Deus que arrancasse todas as coisas do fundo.
Se encontrasse nas palavras alguma grande surpresa que me livrasse a cara,
olharia pra vc com olhos exatos de quem encontrou uma mira pra fincar os pés
ou um sentido pra seguir.
Mas, em meu discurso sem pontuação, não cabe mentir:
e me mantenho neste lugar,
sem endereço, onde nada é meu, nem parece me acomodar.

08 10 2010 1: 30 da manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário