domingo, 17 de outubro de 2010

             No vão da cama
Sentado na pedreira com os pés descalços, o menino chorava
às suas costas, seu passado murmurava
na forma de um quintal, de terra vermelha, um circo infantil de sonhos eternos
Muitos animais e árvores frutíferas
como sua mente que, enquanto naquele cenário, flamejava
ideias de gigantes
quando agora na memória retarda
foge como seus barquinhos de papel pré-escolar na enxurrada
que seguia correndo, sem medo da água
Correr era de praxe, fosse na água, na areia, na grama, na Rua da Saudade
– Pega ladrão!
Quem roubou minha feliz cidade, meu tempo de tamanha ingenuidade?
Onde eu estava e não era, olhava as coisas sem o medo de esquecê-las
Lembrar dói... e eu não quero crescer

Ai, que choro aflito! Que rancor por ter crescido!
O choro se prolongava e vozes amáveis alentavam sem muito argumentar
Eram suas irmãs:
– Você esta tão bonito, tão melhor agora...

Mas a criança não tinha nem esperanças de ali continuar
Seu desespero era fanático, e, quanto maior fosse, só o faria acordar
Acordar era como morrer
E assim foi, seus olhos se abriram
as lágrimas seguiam correndo e lavando aquele lamento
Agora já tão rapaz, no vão da cama chora sozinho e apela ao desapego
– Esquecer, quem me dera, o sabor o cheiro e as brincadeiras de outrora
amadurecer é, pra mim, quimera
Adeus terra do nunca
Já não sou Alice, Peter Pan, nem alguém que um dia era

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